“Sentimental Value”, novo filme de Joachim Trier, entrelaça um melodrama familiar e um retrato agridoce do processo criativo. O longa, exibido no Festival do Rio e no Festival de Londres depois de sua estreia em Cannes (onde levou o Grand Prix), mostra o cineasta norueguês operando no auge da forma e tem elementos de sobra para conquistar o grande público.

Renate Reinsve, em sua terceira colaboração com Trier, estrela aqui com Nora, uma atriz que, juntamente com a irmã Agnes (Inga Ibsdotter Lilleaas), tem uma relação para lá de contenciosa com o pai ausente (e cineasta) Gustav (Stellan Skarsgård). Quando a mãe delas morre e o pai volta ao lar que ele abandonou com a ideia de gravar um filme inspirado na história da família, um longo histórico de traumas coloca os três em rota de colisão.

O atributo de maior destaque da produção, escolhida pela Noruega para representar o país na corrida do Oscar de 2026, é a dose de humor que ela injeta em uma história que, em outras mãos, poderia ser gravada como um pesado dramalhão. A primeira cena de Nora nos bastidores do teatro, por exemplo, é de rachar o bico, e o roteiro – escrito por Trier e Eskil Vogt – não se exime de espalhar piadas pelos 133 minutos de projeção.

Muitas vezes, essa decisão serve para reforçar a absurdez da situação do artista que explora sua dor em sua arte. Em Nora e Gustav, o filme tem duas personagens que fazem isso, só que de maneiras opostas. No fogo cruzado, Agnes, uma historiadora que optou não seguir o caminho artístico depois de uma única experiência na frente das câmeras, serve como contraponto e é através dela que a plateia pode questionar: até que ponto esse sacrifício vale a pena?

Trier está mais preocupado em como seus protagonistas lidam com essa pergunta do que oferecer a resposta – e tudo bem. Para além do fazer criativo, “Sentimental Value” é um longa que abraça o faz de conta do cotidiano e se deleita com a possibilidade de enxergar a dor do passado de outra forma.

Visit Bang Premier (main website)